Rebelião » Barbárie na PAISJ derruba diretor Dois presos foram mortos em ato contra gestor da unidade, que foi substituído
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Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press |
A divisão norte do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) já começou a investigar as mortes dos dois detentos assassinados ontem em uma rebelião na Penitenciária Agro-industrial São João (PAISJ), em Itamaracá. O tumulto, que transformou a unidade em um inferno e provocou pânico entre famílias de detentos, começou por volta das 7h e terminou no fim da tarde. A delegada Alcilene Marques ouviu depoimentos de cinco dos oito presos feridos. Eles retornaram à unidade após atendimento. O ato, segundo os rebelados e seus familiares, foi um protesto pedindo a saída do diretor Ricardo Pereira. À noite, ele foi afastado da direção da unidade.
Na lista de reinvidicações também estão melhorias na alimentação, melhor tratamento aos familiares nos dias de visita e retirada das tornozeleiras eletrônicas. Os detentos subiram nos telhados dos pavilhões, de onde exibiram cartazes e mostraram homens feridos.
Explosões e tiros foram ouvidos.
Segundo a Secretaria de Ressocialização do estado (Seres), antes da intervenção da polícia a confusão na unidade de regime semiaberto foi controlada pelos agentes penitenciários, por volta das 9h30. No entanto, dezenas de policiais militares do Batalhão de Policiamento de Choque e da Companhia Independente do Operações Especiais entraram no local. Na saída, foram vaiados pelos familiares dos detentos à espera de notícias. A Seres identificou 12 reeducandos envolvidos na confusão.
“Os responsáveis pelo quebra-quebra foram autuados em flagrante por dano qualificado ao patrimônio no plantão da Delegacia de Paulista. Quanto às mortes, um dos delegados do DHPP ficará responsável pela investigação”, ressaltou o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Osvaldo Morais. Após a autuação, os presos foram encaminhados para o Cotel, em Abreu e Lima. Devido ao envolvimento na confusão, eles perderam o direito à semiliberdade e voltaram ao regime fechado.
Um barril de pólvora a administrar
Passada a confusão que durou todo o dia de ontem na Penitenciária Agro-industrial São João (PAISJ), uma interrogação ficou em aberto e deve ser respondida pela Polícia Civil. De onde partiram os tiros que mataram os presos Valmir Antônio da Silva e Dinavan Oliveira da Silva? Ambos saíram da unidade feridos a bala e morreram a caminho do hospital. Enquanto a polícia trabalha para identificar os responsáveis pelas mortes, a Secretaria de Ressocialização do estado (Seres) já bateu o martelo e afastou o agente penitenciário Ricardo Pereira do comando da unidade. A Seres confirmou que a penitenciária será gerida por Roger Moury, que já foi diretor do local. Vai ficar sob a tutela do novo gestor resolver as demais queixas dos apenados.
A insatisfação dos detentos culminou na rebelião. Depois de serem levados de volta às celas, os presos pintaram uma toalha onde afirmavam que havia cinco pessoas mortas.
O número não foi confirmado. De cima dos telhados e por trás das grades, eles gritavam que a polícia teria sido a responsável pelos tiros disparados durante a rebelião e que causaram as duas mortes. O promotor da Vara de Execuções Penais do estado, Marcellus Ugiette, entrou na penitenciária para conversar com os detentos.
“Eles reclamaram da forma como as visitas estão sendo tratadas e alertaram que a comida é de péssima qualidade”, disse Ugiette.
A reclamação sobre as condições da PAISJ não são apenas dos presos e dos seus familiares. Quem trabalha na unidade também tem do que se queixar. Em reserva, um agente penitenciário contou que o alojamento está em condições precárias. O Sindicato dos Agentes Penitenciários do estado reforça o caos na unidade de semiliberdade. “Atualmente, a PAISJ é uma das piores unidades para um agente penitenciário trabalhar. Os presos que estão lá acabam achando que estão em liberdade e fica difícil impor normas. Além disso, já houve dias de ter apenas cinco agentes trabalhando”, contou o presidente, Nivaldo de Oliveira.
O secretário da Seres, Romero Ribeiro, adiantou que a segurança da PAISJ será reforçada a partir de hoje, mas não explicou de onde será trazido o reforço, uma vez que o quadro de agentes no estado está defasado. “Abrimos uma sindicância para apurar o que aconteceu. Estamos analisando a situação para anunciar as medidas que serão adotadas. É importante frisar que os próprios agentes penitenciários controlaram a situação”, frisou Ribeiro. O governador Eduardo Campos acompanhou ontem tudo o que aconteceu na PAISJ.
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